Jorge Martins Cardoso

 

Um eterno aprendiz



Textos

A LIBERDADE... "Fé demais atrapalha", do poeta David Corrêa, despertou a ira de muitas pessoas, entre elas, a "ira" da poetisa Kathmandu, que escreveu: "Pois é". O escriba, amanhã, dará também uma resposta poética...
Auto-Hemoterapia, Dr. Fleming e os antibióticos...
11º Artigo Extra (XI)


A LIBERDADE de fumar...
21ª parte

     Enquanto vários países do mundo (inclusive o Brasil), desencadeiam uma agressiva campanha contra o TABAGISMO (aqui incluso os cigarros convencionais, que, apesar de sua nocividade, ainda é considerada uma droga lícita), ao mesmo tempo, vários países do mundo (inclusive o Brasil) desencadeiam uma "científica" campanha a favor de certas drogas ainda consideradas ilícitas, como é o caso da MACONHA. O tabaco, que ao longo de sua história já foi considerado uma substância com propriedades medicinais, poderá entrar no campo das drogas ilícitas, enquanto que a maconha, com seus supostos efeitos medicinais, poderá entrar no campo das drogas lícitas. Assim sendo, os fumantes de cigarros convencionais, aos poucos, estão sendo transformados em "bandidos perigosos". E os fumantes de maconha, aos poucos, estão sendo transformados em "mocinhos perfumados".
     Na edição de nº 779, datada de 18 de dezembro de 2013, a revista CARTA CAPITAL, trás em sua capa: MACONHA na FARMÁCIA - Como José Mujica, presidente do Uruguai, e sua política de drogas podem influenciar a América do Sul. A reportagem completa pode ser encontrada nas páginas 24, 25, 26, 27, 28 e 29, e recebe as assinaturas dos jornalistas Cynara Menezes e Wálter Fanganiello Maierovitch.  
     A OUSADIA DE MUJICA - Com a liberação da maconha, o presidente Uruguaio cada vez mais se desprende do atraso latino-americano.
     Em um episódio de 1995 do desenho animado Os Simpsons, Homer, o patriarca da família e símbolo da classe média americana, localiza, em um globo terrestre, o pequeno Uruguai, ao sul da América do Sul, e erra a pronúncia do país "You Are Gay". Quase duas décadas mais tarde e após três anos de um governo de esquerda (a), o ex-guerrilheiro tupamaro (b) José "Pepe" Mujica deu a nosso vizinho de 3,4 milhões de habitantes tanto destaque no mapa que até Homer, sinônimo no Brasil do telespectador médio do Jornal Nacional da Rede Globo, seria hoje capaz de reconhecê-lo.
     Mujica é, segundo definições mundo afora, "o político mais incrível", "o líder que faz sonhar", "o presidente mais pobre do planeta", que abriu mão de 90% do salário e preferiu morar em sua chácara em vez de na residência oficial. A revista americana Foreign Policy o listou entre os cem pensadores mais importantes de 2013, por redefinir o papel da esquerda no mundo.
     Pepe despertou uma verdadeira Mujicamania até mesmo entre quem tenta esquecer seu passado de guerrilheiro que sequestrou e assaltou bancos durante a ditadura uruguaia e que passou 10 de seus 14 anos de prisão na solitária, edulcoração semelhante à produzida pela mídia mundial em relação a Nelson Mandela.
     Mujica não dá, porém, sinais de pretender interromper os seus projetos "revolucionários", em nome da conciliação ou da governabilidade. Na campanha presidencial, nunca amenizou o discurso para conquistar ou acalmar o eleitorado conservador.  
     (...) Postas em prática, as idéias surpreendem o mundo pelo viés progressista. Enquanto, no Brasil, religiosos chantageiam e encurralam o governo, na terra de Mujica, só neste ano, foram legalizados o aborto até o terceiro mês e o casamento gay. Para culminar, a legalização da maconha, aprovada pelo Senado por 16 votos a favor e 13 contra na terça-feira 10 e que agora vai à sanção do presidente, é uma experiência única. O Estado controlará a produção e a comercialização em FARMÁCIAS a 1 dólar o grama. Os usuários poderão cultivar até três pés da planta em suas próprias casa e organizar cooperativas de consumo.
     O objetivo é acabar com o tráfico da erva no Uruguai e reduzir a criminalidade. Segundo o presidente, a maconha não será legalizada, mas regulada, em substituição a um mercado à margem das regras. A oposição criticou a transformação do país em um "laboratório" e ameaçava recorrer a um referendo para derrubar o projeto.
     A Junta Internacional de Fiscalização de Estupefacientes (c), órgão das Nações Unidas responsável por supervisionar o cumprimento de convenções sobre drogas, condenou a decisão e afirmou que a lei viola os tratados internacionais assinados pelo Uruguai. Em nota, Raymond Yans presidente da entidade, declarou "surpresa" com a aprovação e se reportou a uma convenção de 52 anos atrás. "O objetivo principal da Convenção Única de 1961 é proteger a saúde e o bem-estar da humanidade. A Cannabis está submetida a controle por esta convenção, que exige dos Estados signatários limitar seu uso a fins médicos e científicos, devido ao seu potencial para causar dependência".
     Tanto o líder uruguaio quanto sua mulher, a também ex-tupamara e senadora pela Frente Ampla Lucía Topolansky, confessaram ter pouco ou zero conhecimento sobre a maconha até assumirem o projeto pela legalização. "Nós dois, como temos certa idade (ela 69, ele, 78), éramos perfeitos ignorantes no assunto. Éramos. Agora não", disse Topolansky, cotada para o posto de vice na chapa do provável candidato à sucessão de Mujica, o ex-presidente Tabaré Vázquez. (1) e (3).
     A MENTIRA VIRA FUMAÇA - O Uruguai rompe com as falácias que sustentam a proibição da maconha. Na presidência de José Mujica, o Uruguai torna-se o primeiro país da América do Sul a romper com o paradigma proibicionista relativo ao consumo da maconha. A nova legislação, de iniciativa de Mujica e em fase de sanção presidencial depois de aprovada pelo Senado, legaliza o consumo para finalidade terapêutica, com venda em FARMÁCIAS mediante a apresentação de receita médica, e promove a legalização, sobre controle do Estado e conforme regulamentação, do seu uso lúdico-recreativo. No Canadá, é o próprio Estado que realiza o plantio e, para fins terapêuticos, distribui ao indicado em atestado médico. No Uruguai, a lei será regulamentada de modo a prever todas as hipóteses. Com a abertura, o Uruguai se liberta do proibicionismo contra a cannabis iniciado nos anos 30 do século passado nos Estados Unidos e conduzido por Harry Jacob Anslinger (d), que, na chefia do Narcotic Buerau of Prohibition, transformou-o em centro de desinformação sistemática com fim repressivo. Esse misterioso personagem falecido em 1975, cuidou de espalhar duas mentiras até hoje utilizadas pelos fundamentalistas da falida Waron Drugs.
     A primeira mentira de Anslinger apontava a maconha como droga de passagem, ou melhor, de ingresso a outras e mais danosas. Sobre isso, a própria Casa Branca, em 1972, admitiu ser falsa a informação cunhada por Anslinger e estar ela baseada em estudos científicos material e ideologicamente falsos.
     Além disso, a prestigiosa American Medical Association (e) concluiu não constar na marijuana nenhum componente condutor a drogas mais pesadas. Em outras palavras, não existe absolutamente nada na cannabis que leve, por exemplo, ao consumo de heroína ou cocaína. Nada de FARMACOLÓGICO, de QUÍMICO, de neurofisiológico, de psicológico.          
     A segunda mentira: uma overdose de maconha levaria à morte. Para ela ocorrer, uma infinidade de estudos científicos não contestados afirma ser necessário o consumo ininterrupto de 4 quilos de maconha, 40 mil vezes a dose normal e usual da erva. Nenhum mortal, concluíram os estudos, teria condições de consumir tal quantidade.  
     O proibicionismo ao estilo Anslinger foi incorporado, em 1961, à Convenção das Nações Unidas, ainda em pleno vigor e até hoje não revista pela resistência dos teocráticos Estados membros e dos EUA.        
     A nova lei e política uruguaia segue o modelo da Holanda, praticado a partir de 1968, com a abertura, na cidade universitária e industrial de Utrecht, do Café Sarasani (f). A meta da política holandesa era afastar o usuário do traficante e investir na repressão ao tráfico. Os coffee shops, depois da experiência piloto do Café Sarasani, foram liberados para vender, por noite e a maiores de 18 anos, até meio quilo de maconha aos frequentadores.
     Quando a Holanda rompeu com as convenções da ONU, baseou-se em parecer de uma comissão científica e estudos policiais relativos ao contraste à criminalidade. A Holanda, diante do fenômeno do "turismo da maconha", alterou, em 2003, a política de vendas nos cafés. Apenas cidadãos holandeses e os residentes podem consumir marijuana nos coffee shops. Por outro lado, mantém-se firme a legalidade do plantio para uso pessoal e terapêutico de até seis plantas de maconha por residência.
     Segundo uma pesquisa, no Uruguai, consomem-se 22 toneladas por ano de drogas proibidas. Do total, 80% é maconha. A aprovação da lei e a sanção presidencial prevista para os próximos dias não agradou à maioria dos cidadãos uruguaios: mais de 60% são contrários à legalização. (2) e (3).
     (a) - Governo de esquerda, (b) - Tupamaro, (c) - Estupefaciente, (d) - Harry Jacob Anslinger, (e) - American Medical Association e (f) - Café Sarasani, serão vistos nas próximas partes. A luta contra a debilitante POLIOMIELITE (paralisia infantil) continua, e, a luta a favor da inofensiva AUTO-HEMOTERAPIA (AHT), também continua.
     Se Deus nos permitir voltaremos outro dia. Boa leitura e bom dia.
     Aracaju, 17 de dezembro de 2014.
     Jorge Martins Cardoso - Médico - CREMESE - 573.
      Fontes: (1) - Por Cynara Menezes (transcrição parcial). (2) - Por Wálter Fanganiello Maierovitch (transcrição parcial). (3) - Revista Carta Capital, ano XIX, nº 779, 18 de dezembro de 2013, páginas 24 à 29.
      
    
      


jorge martins
Enviado por jorge martins em 06/07/2015


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