A LIBERDADE... O CONHECIMENTO... A ARTE... O PREÇO... "A Era de Ouro do Rádio" - sétima e última parte - (parte a).
“A Era de Ouro do Rádio”. 7ª parte - (parte a). HISTÓRIA DO RÁDIO. Por Fábio Pirajá – O Radionauta. Neste site você vai encontrar os mais interessantes trabalhos de Rádio, Televisão e Publicidade já produzidas no Brasil. A Era de Ouro da Rádio Nacional - Anos 40 e 50. Foi nos anos 1940 e 1950, a Rádio Nacional, a principal emissora do país e verdadeiro símbolo da chamada "Era do Rádio". Em 1937, foi inaugurado o "Teatro em Casa" para a irradiação de peças completas, semanalmente. Sua programação ao vivo passou depois a ser retransmitida para todo o país, o que a tornou uma pioneira na integração cultural do país. Seus programas de auditório, radionovelas, programas humorísticos e musicais marcaram a História do Rádio no Brasil. Foi líder de audiência praticamente desde a fundação até que o aparecimento da TV ditasse novos rumos para a comunicação no país. Seus programas eram transmitidos diretamente dos muitos estúdios específicos, inclusive do auditório da Rádio, todos localizados nos três últimos andares do edifício "A Noite", Praça Mauá, nº 07, Rio de Janeiro. Se seus programas de humor, suas radionovelas, seus programas noticiários e os esportivos viraram modelo para muitas outras rádios do país, e foi fundamental também para o desenvolvimento da música popular brasileira. Os primeiros nomes de cantores a formar seu casting foram Sonia Carvalho, Elisinha Coelho, Silvinha Melo, Orlando Silva, Nuno Roland, Aracy de Almeida e Marília Batista. Radionovelas. Segundo depoimento do radialista e compositor Haroldo Barbosa ao pesquisador Luis Carlos Saroldi, "Nos primeiros anos, a Rádio Nacional apresentava uma estrutura muito simples: uma seção artística e uma seção administrativa, nada mais que isso. A emissora contava com menos de 30 pessoas para cantar, executar músicas, contabilizar e realizar outras tarefas menores". As radionovelas da emissora marcaram época a partir da primeira, transmitida em 1941, "Em Busca da Felicidade", que durou três anos, até "O Direito de Nascer", que chegou a mudar hábitos das pessoas que tinham compromisso marcado com as transmissões dessa radionovela, posteriormente adaptada para a televisão. Até meados da década de 1950, o Rádio-Teatro Nacional irradiou 861 novelas, as mais ouvidas do rádio brasileiro, segundo as mais seguras pesquisas de audiência. Pode-se observar que a música popular brasileira foi uma, antes, e outra, depois da Nacional, que se transformou numa verdadeira criadora de ídolos através da realização de concursos como "A Rainha do Rádio", que consagrou diversas cantoras, como Emilinha Borba, Marlene, Dalva de Oliveira e Ângela Maria. Um dos cantores que ficou marcado como símbolo dessa era foi Cauby Peixoto, que enchia o auditório da Rádio em suas apresentações. Em 1936, Linda Batista foi eleita a primeira "Rainha do Rádio", permanecendo no posto por doze anos. Em 1938, Almirante estreou o primeiro programa de montagem, ou montado, que foi "Curiosidades Musicais", sob o patrocínio dos produtos “Eucalol”. O mesmo artista lançou no mesmo ano o primeiro programa de brincadeiras de auditório, o "Caixa de Perguntas". Outro programa de destaque na emissora surgido no mesmo período foi "Instantâneos Sonoros Brasileiros", produzido por José Mauro com direção musical de Radamés Gnattali, regente da orquestra. Incorporação. Em 1939, Lamartine Babo passou a apresentar o programa "Vida Pitoresca e Musical dos Compositores". Em 1940, a Rádio Nacional passou a fazer parte do Patrimônio Nacional, a partir de decreto assinado pelo presidente Getúlio Vargas, sendo então, dirigida por Gilberto de Andrade, que tratou de dar uma nova cara à programação da Rádio, no que muito foi auxiliado pelo radialista José Mauro, irmão do cineasta Humberto Mauro. No ano seguinte, passou a ser apresentado o noticioso "Repórter Esso", marco do jornalismo radiofônico e que passaria a ter como apresentador, três anos depois, o locutor Heron Domingues. O prefixo do "Repórter Esso" foi escrito pelo maestro Carioca e executado por Luciano Perrone na bateria, Carioca no trombone e Francisco Sergio e Marino Pissiani nos pistons. A Rádio Nacional foi a primeira emissora do Brasil a organizar uma redação própria para noticiários, como na rotina de um grande jornal diário impresso. A emissora da Praça Mauá construiu uma divisão de rádio-jornalismo com mais de uma dezena de redatores, secretários de redação, rádio-repórteres, informantes e outros auxiliares, além de uma sessão de divulgação e uma sessão de esportes completa, e um boletim de notícias em idioma estrangeiro, que cobria todo o continente. Em 18 de abril de 1942, foram inaugurados os novos estúdios da Rádio Nacional, no vigésimo primeiro andar do edifício "A Noite". Com 486 lugares, as novas instalações traziam inovações como o piso flutuante sobre molas especiais do palco sinfônico. Ainda em 1942, Almirante estreou o programa "A História do Rio pela Música". Nesse ano iniciou-se uma publicação semanal com a programação da emissora e cuja capa na maioria das vezes estampava a foto de cantores ou cantoras ligados à emissora. Também nesse ano, as ondas curtas da PRE-8 passaram a ser ouvidas em vários países. Em 1943, a programação da emissora tomou impulso com a estréia do programa "Um Milhão de Melodias", patrocinado pelo refrigerante “Coca-Cola”, que estava sendo lançado no Brasil. Para esse programa foi criada a Orquestra Brasileira, com direção de Radamés Gnatalli. O repertório do programa apresentava duas músicas brasileiras atuais, duas antigas e três músicas estrangeiras de grande sucesso. A Orquestra Brasileira de Radamés Gnatalli era formada pela mescla de grandes músicos como Luciano Perrone na bateria, vibra fone e tímpano, Chiquinho no Acordeão, Vidal no contrabaixo, Garoto e Bola Sete nos violões, José Meneses no cavaquinho, além dos músicos da velha guarda do samba carioca como João da Baiana no pandeiro, Bide no ganzá e Heitor dos Prazeres tocando prato, faca e caixeta. Também para atuar no programa foram criados os Trios “Melodia” e “As Três Marias”. Nesse ano, estreou com grande sucesso o programa "Trem da Alegria", apresentado pelo “Trio de Ouro”, formado por Heber de Bóscoli, Yara Sales e Lamartine Babo. Entre as muitas inovações surgidas na Rádio Nacional e que influíram no próprio desenvolvimento da música popular brasileira estão os arranjos para pequenos conjuntos, trios e quartetos de Radamés Gnattali e os acompanhamentos rítmicos do baterista Luciano Perrone que causaram uma pequena revolução no samba orquestrado feito até então. Luiz Gonzaga. Foi Luciano Perrone quem sugeriu a Radamés Gnatalli a utilização dos metais, até então com funções exclusivamente melódicas, como mais um elemento de função rítmica na interpretação dos sambas gravados. Na década de 1940, pelo menos três dos maiores cantores brasileiros eram contratados da Rádio Nacional: Francisco Alves, Sílvio Caldas e Orlando Silva. Ainda em 1943, estreou na Rádio Nacional o sanfoneiro Luiz Gonzaga que inspirado no sanfoneiro Pedro Raimundo que se vestia com trajes típicos do sul, resolveu vestir-se com trajes típicos do nordeste e dessa forma passou a divulgar a música e a cultura nordestinas. Em 1946, um dos maiores sucessos musicais foi o samba-canção "Fracasso", de Mário Lago gravado por Francisco Alves e tema extraído da radionovela com o mesmo título. Nesse ano, a Rádio Nacional inovou na forma de transmitir partidas de futebol, adotando o chamado "sistema duplo", que dividia o campo de jogo em dois setores, cada qual com um locutor acompanhando de preferência o ataque de cada um dos times. O "sistema duplo" foi inspirado no então moderno método de arbitragem em trio, com os bandeirinhas colocados em ângulos opostos. A década de 1950 ficou marcada pela acirrada competição pelo título de "Rainha do Rádio" que envolveu em disputas memoráveis cantoras como Emilinha Borba, Marlene e Ângela Maria. Nessa década, os programas de auditório da emissora tornaram-se tão concorridos que era cobrado ingresso até para assistir os programas em pé. Outra disputa musical que marcou época no Rio de Janeiro, tendo a Rádio Nacional como centro, era a da divulgação de marchas e sambas carnavalescos, dos quais um dos muitos destaques foi o cantor e compositor Blecaute, sempre presente aos programas de auditório da Rádio. Rainhas do Rádio. Nesse período fizeram parte do "cast" da emissora, artistas que marcaram a música popular brasileira como: Orlando Silva, Ataulfo Alves, Carlos Galhardo, Linda Batista, Luiz Gonzaga, Carmen Costa, Nelson Gonçalves, Nuno Roland, Paulo Tapajós, Albertinho Fortuna, Carmélia Alves, Luiz Vieira, Zezé Gonzaga, Gilberto Milfont, Heleninha Costa, Ademilde Fonseca, Bidu Reis, Nora Ney, Jorge Goulart, Neuza Maria, Adelaide Chiozzo, Jorge Fernandes, Dolores Duran, Lenita Bruno, Carminha Mascarenhas, Violeta Cavalcânti, Vera Lúcia, etc. Em 1948, Dircinha Batista foi eleita "Rainha do Rádio" substituindo a irmã Linda Batista. No ano seguinte, teve início a eletrizante disputa pelo título de "Rainha do Rádio" entre as cantoras Emilinha Borba e Marlene. Esta última foi eleita no ano seguinte com o apoio da “Companhia Antártica Paulista”, que lançava o Guaraná Caçula e fez dela sua garota propaganda, tendo o total de 529.982 votos. Marlene repetiu o feito no ano seguinte. Em 1952 e 1953, a Rainha foi Mary Gonçalves. Por volta de 1950 foi criado na emissora o Departamento de Música Brasileira, que obteve um de seus maiores êxitos no ano seguinte no programa "Cancioneiro Rayol" com a série "No Mundo do Baião", apresentada pelo radialista Paulo Roberto. A chefia do Departamento de Música Brasileira foi entregue inicialmente ao compositor Humberto Teixeira. Outro programa musical ligado ao Departamento de Música Brasileira e que fez muito sucesso foi "Lira de Xopotó", apresentado pelo radialista Paulo Roberto e que incentivava as bandas do interior que apresentavam músicas com arranjos do maestro Lírio Panicali. Igualmente Programa marcante dessa época foi "Música em Surdina", criado por Paulo Tapajós e apresentado em estúdio no final da noite por Chiquinho, no acordeom, Garoto, ao violão e Fafá Lemos ao violino, interpretando um repertório eclético e que deu ensejo ao surgimento do “Trio Surdina”. O violinista Garoto por sinal foi um dos artistas que se destacou na Rádio Nacional nos anos 1950, quando passou por diferentes grupos nos seus dez anos de permanência na programação. Atuou na Orquestra Brasileira de Radamés Gnattali e pelo “Bossa Clube” ao lado de Luis Bittencourt, Luis Bonfá, Valzinho, Bide, Sebastião Gomes e Hanestaldo. Ainda na década de 1950, destacaram-se os programas "Sua Excelência a Música" e "Quando os Maestros se Encontram". Esse último reunia cinco arranjadores da emissora, quase sempre os maestros Alexandre Gnattali, Lírio Panicali, Alberto Lazzoli, Léo Peracchi e Alceo Bocchino. Ainda no começo da década houve a tentativa frustrada de criar o Selo Nacional para gravação de discos que ficou apenas no primeiro, com Manezinho Araújo gravando o baião "Torei o Pau", de Luiz Bandeira e a marcha "Um Cheirinho Só", de Manezinho Araújo e Armando Rosas. Rádio-Teatro. Destacaram-se também nessa década inúmeros programas mistos como "Coisas do Arco da Velha", de Floriano Faissal; "Gente que Brilha" e "Nada Além de 2 Minutos", de Paulo Roberto; "Clube das Donas de Casa", de Lourival Marques; "Grande Espetáculo Brahma", de Mario Meira Guimarães; "Hoje Tem Espetáculo", de Paulo Gracindo; "Música e Beleza", de Roberto Faissal; "Nova História do Rio pela Música" e "Recolhendo o Folclore", de Almirante; "Passatempo Gessy", de Jota Rui; "Rádiosemana", de Hélio do Soveral; "Roteiro 21", de Dinarte Armando; "Seu Criador Superflit", de Lourival Marques e "Todos Cantam sua Terra", de Dias Gomes. Entre os programas de Rádio-teatro merecem citação, "A Vida Que a Gente Leva" e "Boa Tarde, Madame", com Lucia Helena; "Consultório Sentimental", com Helena Sangirardi; "Divertimentos Brankiol", com Ary Picaluga; "Edifício Balança Mas Não Cai", com Paulo Gracindo; "Grande Teatro De Milus", com Dias Gomes; "Jararaca e Ratinho", com Joe Lester; "Marlene Meu Bem", com Mário Lago; "Os Grandes Amores da História", com Saint Clair Lopes; "Sabe da Última?", com Rui Amaral e "Tancredo e Trancado", com Ghiaroni. Em 1951, Paulo Tapajós criou o programa "A Turma do Sereno", de grande sucesso e no qual um repertório de serestas era apresentado por Abel Ferreira no clarinete, Irany Pinto no violino, João de Deus na flauta, Sandoval Dias no clarone, Waldemar de Melo no cavaquinho e Carlos Lentini e Rubem Bergman nos violões. Segundo as palavras de Paulo Tapajós, o programa "Turma do Sereno” ocupava apenas um cavaquinho, uma flauta, um clarinete, um clarone e um violino, além dos cantores e outros solistas convidados. A "Turma do Sereno" era o reencontro da música, com a rua mal iluminada pelo lampião a gás, era o momento em que a gente imaginava que numa esquina de rua encontravam-se os velhos amigos para fazer choro, para cantar valsas e modinhas; era a oportunidade da gente tirar dos velhos baús alguns xotes, maxixes, polcas, já um tanto amarelados. Animadores. Nos anos de 1953 e 1954, a cantora Emilinha Borba foi eleita "Rainha do Rádio". Nos dois anos seguintes, a consagrada foi Ângela Maria que chegou a obter o total de 1.464.996 votos. Em 1955, o radialista Almirante retornou à Rádio Nacional e criou os programas "A Nova História do Rio pela Música" e "Recolhendo o Folclore". Por essa época, Renato Murce apresentou o programa "Alma do Sertão", um dos maiores sucessos entre os programas sertanejos. Em 1959, o cantor e compositor Zé Praxédi passou a apresentar diariamente o programa "Alvorada Sertaneja". Um dos mais famosos programas da década de 1950 foi o "Programa César de Alencar", que comemorou os dez anos no ar com um show para 20 mil pessoas no Maracanãzinho. Outros programas com animadores ficaram também célebres, como os de Paulo Gracindo e Manoel Barcelos. Outro destaque de sua história, foi o estúdio para rádio novelas e seriados diversos, como "Jerônimo, o Herói do Sertão" e "O Sombra", onde os truques de sonoplastia ficaram célebres especialmente os truques do sonotecnico Edmo do Valle. Entre os programas de auditório apresentados na Rádio na década de 1950 podemos destacar: "Alegria, Meus Senhores" e "Este Mundo é Uma Bola", apresentados por Fernando Lobo; "Alô, Memória", "Dr. Infezulino" e "Enquanto o Mundo Gira", apresentado por Paulo Gracindo; "Ganha Tempo Duchen", "O Cartaz da Semana" e "Parada dos Maiorais", com Hélio do Soveral; "Nas Asas da Canção", com Dinarte Armando; "Qualquer Semelhança é Mera Coincidência", com Waldir Buentes; "Papel Carbono", Renato Murce e "Placar Musical", com Nestor de Holanda Cavalcânti. Entre os programas musicais também merecem destaque, "A Canção da Lembrança", com Lourival Marques; "Audições Cauby Peixoto", apresentado por Mário Lago; "Audições Orlando Silva", com Ghiaroni; "Cancioneiro Royal", com Paulo Tapajós; "Cancioneiro Romântico", com Rui Amaral; "Carrossel Musical", com Ouranice Franco; "Clube do Samba" e "Pelas Estradas do Mundo", com Fernando Lobo; "Fama e Popularidade", com Oswaldo Elias; "Festivais G. E.", com Leo Peracchi; "Festivais de Gaitas", com Cahuê Filho; "Horário dos Cartazes", com Almeida Rego e "Preferências Musicais", com Dinarte Armando. Dentre seus muitos locutores famosos está César Ladeira, uma das vozes de excelência de toda a história do Rádio no Brasil, especialmente lembrado com o programa "A Crônica da Cidade". O declínio da Rádio, que se iniciara com a inauguração da televisão, acentuou-se de forma definitiva com o Golpe militar de 1964, que afastou 67 profissionais e colocou sob investigação mais 81. Em 1972, os arquivos sonoros e partituras utilizadas em programas da Rádio foram doados ao Museu da Imagem e do Som, MIS. Durante as décadas de 1980 e 1990 o declínio da Rádio se acentuou devido à falta de investimentos e à concorrência cada vez maior da televisão e também das Rádios FM. Perda de audiência. A emissora foi perdendo audiência e deixando de disputar os primeiros lugares na preferência do público. Manteve, no entanto durante esse tempo diversos programas tradicionais da emissora apresentados por radialistas como Dayse Lucide, Gerdal dos Santos e outros que ainda arrastavam atrás de si a audiência de ouvintes fiéis e saudosos dos tempos de glória da emissora. A partir de junho de 2003, passou a estar sob a direção de Cristiano Menezes, que iniciou um plano de revitalização da PRE - 8. Em 2004, foi assinado um convênio entre a Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro e a Petrobras, que acertou a digitalização de todo o acervo de partituras da Rádio. Entre as obras estão raridades dos maestros Radamés Gnattali e Guerra-Peixe. Nesse ano, a Rádio saiu do ar por 15 dias para passar por reformas que incluem a troca de transmissores e instalação de novos estúdios no antigo prédio da Praça Mauá, no Rio de Janeiro. Além disso, a Rádio Nacional passará a ser a primeira Rádio Digital AM. Tudo dentro de um plano de revitalização da Rádio. O famoso auditório da Rádio será reformado e terá sua capacidade reduzida de 500 para 150 lugares e voltará a abrigar shows. Entre os novos programas estão previstos, o "Homenagem Nacional", no qual um sexteto permanente acompanhará a homenagem a um grande nome da história da música popular brasileira, com um astro atual interpretando sucessos do artista homenageado. Programa-se ainda o "Memória Nacional", que deverá ser apresentando ao vivo, reunindo nomes como Cauby Peixoto, Marlene, Emilinha, Carmélia Alves, Carminha Mascarenhas e Adelaide Chiozzo, que foram sucessos nos anos de ouro da Rádio Nacional. Ela ficou conhecida como "A Escola do Rádio", o que por si só dá o tamanho de sua importância histórica. O NASCIMENTO DA RÁDIO NACIONAL. Quando a Rádio Nacional foi fundada, no ano de 1936, o mundo inteiro ainda mal refeito da primeira Grande Guerra esperava pela eclosão de um novo conflito. Naquele ano, a Itália invadiu a Etiópia e se aliou a Hitler, da Alemanha. Na verdade, as razões que determinaram a primeira guerra não haviam sido resolvidas. A Alemanha e a Itália continuavam fora do processo neo-colonialista e, unidas, tramavam os passos da conquista de novos territórios. Era um tempo de autoritarismo. No Brasil, Getúlio Vargas governava com aparência de alguma legalidade. Fora eleito por uma Assembléia Constituinte, por ele mesmo nomeada, em 1934. Entretanto, o golpe que viria a implantar o Estado Novo encontrava-se em gestação. O governo conseguira a pouco debelar a “Intentona Comunista”, liderada por Carlos Prestes. Mas não tínhamos, exatamente, um céu de brigadeiro. O ar era pesado, por todo lado. Pouca sorte teria a Constituição de 34, amena e democrática. Em seu lugar, viria a "polaca"... A Carta Magna que implantaria a ditadura, debaixo da qual o Brasil viveu até 1945. Foi neste cenário, mais ou menos assombrado, que a Rádio Nacional foi concebida. As peças do jogo do poder moviam-se rapidamente, aqui e lá no primeiro mundo. O nosso país, o quinto maior em extensão territorial do planeta, era uma presa fácil. Vulnerável, desprotegido, precisava de uma voz que o unisse. Se é verdade que de boas intenções se faz o caminho do inferno, também é crível que propostas meramente políticas e racionais podem sair do trilho e acabar virando histórias de amor, talento e muito sucesso. Foi o caso da Nacional. Ela surgiu pela razão e acabou ganhando o coração. Aconteceu assim, desde o primeiro dia em que foi ao ar: 12 de setembro de 1936, sábado. Do signo de Virgem e, por isso mesmo, simpática, leal e destinada a fazer amigos, a emissora cumprimentou o Brasil, às 21 horas, com a voz doce e melodiosa de Celso Guimarães... "Alô, Alô Brasil! Aqui fala a Rádio Nacional do Rio de Janeiro!" Depois, vieram os acordes de "Luar do Sertão" e uma benção do Cardeal da cidade. No dia seguinte, o protocolo ficou de lado e Oduvaldo Cozzi, caprichou na transmissão de Flamengo e Fluminense, acrescido de uns flashes de Vasco contra o São Cristóvão. Estava feito o caso de amor. Paixão do Brasil, amizade de muitas gerações, voz que serviu para nos unir, informar e divertir. Foi ao pé da Rádio Nacional que o país acompanhou a Segunda Grande Guerra. Sofremos, sem perder a ternura, salvos pelo fabuloso talento de uma emissora que virou um time. ALGUNS PROGRAMAS DA ÉPOCA. OS CALOUROS DO ARY - Muita gente boa apareceu no programa comandado por Ary Barroso, um dos maiores compositores da MPB. Ângela Maria, por exemplo, cantou em outubro de 1949, no programa “Calouros em Desfile”. Ganhou nota cinco (máxima), interpretando “Doce Mistério da Vida". O programa passou por várias emissoras, começando pela Rádio Cruzeiro do Sul, em 1937, passando depois pelas Rádios Tupi e Nacional. De tão antológico, “Os Calouros do Ary” foram assimilados pela Televisão, em uma longa temporada na TV Tupi, do Rio de Janeiro. O TREM DA ALEGRIA - Programa de variedades transmitido ao vivo do Auditório da Rádio Nacional e comandado por Heber de Bôscoli, o maquinista; Yara Sales, a foguista e o guarda-freio, Lamartine Babo. A tripulação envergava macacões e bonés azuis de ferroviários e animava o “Trem da Alegria” com a apresentação de brincadeiras, números musicais, enquetes e distribuição de prêmios. JERÔNIMO, O HERÓI DO SERTÃO - Seriado infanto-juvenil, escrito por Moisés Weltman, para a Rádio Nacional. Aninha a namorada de Jerônimo e o Moleque Saci, vivido por Cauê Filho, protagonizaram por muitos anos as aventuras no sertão do Brasil, onde o bem sempre vencia o mal... TANCREDO E TRANCADO - Programa de humor, com base nas situações do dia a dia, escrito por GHIARONI e estrelado por Ema D`Ávila, Brandão Filho e Apolo Correa. Realizado, ao vivo, no auditório da Rádio Nacional, era transmitido aos domingos. Dos "bordões" repetidos pelos personagens alguns ficaram célebres como: "Quem nasceu pra lagartixa, nunca chega a jacaré"; "Não é por me gabar não, mas a senhora é muito boooa..."; "Ele não toca pandeiro, que fará bongô...". O REPÓRTER “ESSO” - "Um 28 de agosto de 1941, mesmo dia em que o Brasil juntou-se às Forças Aliadas para combater o Exército Alemão na Segunda Guerra Mundial, entrava no ar na Rádio Nacional o Repórter “Esso”. (...) A princípio narrado pelos locutores Celso Guimarães, Romeu Fernandes, Saint-Clair Lopes, Aurélio de Andrade e Jorge Curi, o Repórter “Esso” era transmitido às 8h, 12h55, 19h55 e 22h55". Em 1944, Heron Domingues assumiu a titularidade do programa, com desempenho marcante para sua carreira e para o próprio noticiário. A CRÔNICA DA CIDADE - Página diária sobre episódios curiosos, relevantes ou merecedores de crítica sobre a cidade do Rio de Janeiro. Inicialmente chamada A CRÔNICA DA CIDADE MARAVILHOSA, foi assinada por Genolino Amado, na Rádio Mayrink Veiga, na voz de César Ladeira. Com a ida de Ladeira para a Rádio Nacional, a Crônica passou a ser escrita, na nova emissora, por Ghiaroni e, posteriormente por Pedro Anísio. A FELICIDADE BATE À SUA PORTA - Apresentado por Heber de Bôscoli e, posteriormente, por Afrânio Rodrigues, "nesse programa, o esquema mais sofisticado de transmissão incluía um furgão devidamente equipado que percorria os bairros do Rio de Janeiro levando o apresentador à procura do ouvinte que tivera a sua carta sorteada no auditório. Localizado o felizardo (e se ele comprovasse o uso de produtos da União Fabril Exportadora), iniciava-se uma série de comemorações em que o atrativo máximo era a presença da cantora Emilinha Borba". CURIOSIDADES. O prédio da Praça Mauá, nº 7, Edifício “A Noite”, com 22 andares, cujos últimos dois pavimentos são ocupados pela Rádio Nacional possui uma "griffe" importante: foi projetado pelo arquiteto francês Joseph Gire, o mesmo que assinou a concepção do Copacabana Palace. O Edifício “A Noite” foi o primeiro arranha-céu do Rio de Janeiro, construído em cimento armado, cravado sobre rocha viva. O gostoso na Rádio Nacional, além do clima de trabalho geralmente correndo em ritmo de amigo pra cá e amigo pra lá, era o espaço, e mais de um lugar disponível quando a conversa numa roda já tinha perdido o interesse. No bar se encontrava um pouco de refúgio, pois ali desembocavam todas as fofocas e sempre surgia uma irreverência, uma piada em fração de segundos, chegava ao terraço do 22º andar. Como aquela do Paulo Gracindo durante a temporada que a Edith Piaf fez na Rádio. Estávamos lanchando quando apareceu uma velhinha na porta do bar. Rosto-pelanca, tornozelo-artrite, e o Paulo não perdeu a oportunidade: - A Garota Propaganda da Piaf. (Mário Lago). Noel Rosa foi contrarregra do “Programa Casé”, dirigido e apresentado por Ademar Casé e que estreou em fevereiro de 1932, na Rádio Philips do Brasil. O contrarregra, em um programa de variedades era peça fundamental. Tinha a função de dosar os números musicais, evitando repetições do mesmo gênero, cuidando de entremear vozes masculinas com femininas, peças de orquestras, cenas humorísticas e solos. Nisso, Noel era ótimo. Sua grande dificuldade era chegar na hora, ou seja, quinze minutos antes do programa começar. Suas desculpas para o chefe Casé ficaram na história do rádio: - Você me desculpe Casé, mas o "bonde furou o pneu"... - Esqueci onde era a Rádio Philips, Casé... Pensei que fosse em Cascadura... - Desculpe Casé, mas hoje não consegui chegar mais tarde... O compositor Antonio Maria foi durante muito tempo produtor, redator e locutor da Rádio Tupi e da Rádio Mayrink Veiga. Além disso, compunha os jingles dos anunciantes. São de sua autoria dois especialmente marcantes, na Era do Rádio: Eu sou a água de cheiro Regina. Eu sou o talco Regina. Eu sou o sabonete Regina. Nós três, o trio maravilhoso Regina. Quer no calor e no frio com o tempo bom ou chuvoso, somos o trio Regina. Se a criança acordou Dooooooorme, dooooorme, filhinha. Tudo calmo ficou Mamãe tem Aurisedina. Locutor - E a criança dormirá em paz com Aurisedina. A versão brasileira de Happy Birthday to You foi escrita por Lea Magalhães, vencedora de um concurso organizado na Rádio Nacional, em 1941. Cauby Peixoto pertence a uma família talentosa na MPB e de projeção na história do Rádio Brasileiro. O pianista Nono (Romualdo Peixoto) era seu tio; dois irmãos, Araken e Moacyr são músicos; a irmã, Andiara, é cantora e, pra encerrar, o grande sambista Cyro Monteiro era primo de Cauby. Cauby Peixoto foi o titular, durante muitos anos, de um musical na Rádio Nacional, escrito por Ghiaroni e patrocinado pelas Casas Garçom. O sucesso do cantor era tão grande, mobilizando um número assombroso de fãs delirantes, que passou a ser chamado de o "Cantor das Multidões". Quando de suas entradas e saídas da Rádio Nacional, em plena Praça Mauá, o público acabava rasgando suas roupas. A tarefa das fãs, entretanto, era facilitada pela estratégia do empresário Di Veras, que providenciava para o ídolo, ternos capazes de se desfazem em minutos ao simples puxão de mocinhas com baixo preparo físico. Resultado: muitas vezes Cauby precisou correr apenas de cueca e gravata pela Avenida Rio Branco... (no próximo artigo, logo a seguir, virá a (parte b) da sétima e última parte).
jorge martins
Enviado por jorge martins em 05/11/2015
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