Jorge Martins Cardoso

 

Um eterno aprendiz



Textos

A LIBERDADE... O CONHECIMENTO... A ARTE... O PREÇO... O TEMPO... A VERDADE... A VIDA... A VONTADE... O SOL NÃO EXISTE... 33º ato.
A LIBERDADE... O CONHECIMENTO... A ARTE... O PREÇO... O TEMPO... A VERDADE... A VIDA... A VONTADE... O SOL NÃO EXISTE... 33º ato.






O SOL NÃO EXISTE... 33º ato.







GILBERTO CARVALHO - O HOMEM do CARRO PRETO de SANTO ANDRÉ (28ª parte).





Afinal, quem foi, quem é, e o que quer o BARBUDO e ENVELHECIDO LULA? Como foi o início da vida de Lula? Como GILBERTO CARVALHO conheceu o SAPO BARBUDO? – 6º Capítulo.





O ENCONTRO.



     O PRIMO e Servente de Pedreiro SANTINHO, posteriormente levado de MONTES CLAROS e adotado, já estavam na capital de SÃO PAULO, e os chamou para lá, no vácuo do golpe de 64, começo de 65.

    LAMBARI alugou a casa 04 da Rua 35, na PONTE PRETA, e dias depois de trazer a família, era hora de receber, na casa ao lado, aquela Família Pernambucana, numerosa, encarapitada no caminhão que vinha da VILA CARIOCA e que exibia o FOGÃO de duas bocas como precioso troféu.

     Tangidos pela mesma SECA, afinal estavam reunidos na parede-meia, que anexaria os dois destinos de RETIRANTES: - Os de MINAS, comandados por Dona HERMÍNIA, e os de PERNAMBUCO, chefiados por Dona LINDU, aquela mulher paciente e calma, brincalhona e otimista, incapaz de qualquer murmúrio ou queixa.

     Sem móveis, sem nada, 08 pessoas no quarto e cozinha única, mas ainda assim mais confortáveis do que os vizinhos de VARGEM COMPRIDA, 10 ao todo (OITO Filhos e o Primo ZÉ GRAXA).

     Os de MINAS passavam o dia com o Radinho à Pilha seguro na mão, no meio da sala, ouvindo ZÉ BÉTIO.

     Lula era o rapazinho de bicicleta, que ficava na porta, mão na parede, num vai-e-vem eternos.

     LOURDES, com 17 anos, foi trabalhar na TECELAGEM DAMATEX, de onde saiu para casar-se com o futuro Presidente da República, cedendo a vaga para a PRIMA HELOÍSA, sobrinha de Dona HERMÍNIA, que hoje mora em MONTES CLAROS.

     Lula recebia o Seguro do Dedo Decepado e o Ferimento chamou a atenção, e a dó, de LOURDES.

     Ele e LAMBARI saiam juntos para procurar o emprego que não havia em lugar nenhum.

     “FREI CHICO” já era soldador e membro do “PARTIDÃO”, e a simpática “MARIA BAIXINHA”, enfermeira.

     Inventaram então os “BAILINHOS” de domingo, durante o dia, as excursões ao Pico do JARAGUÁ, as sessões de cinema, as missas.

     LOURDES, ainda só amiga, podia contar com Lula para toda festa, onde ela sempre queria demorar mais do que ele. Os japonesinhos ali sempre juntos, OLAVO e KIVA, o primeiro virou Padrinho de Casamento e, o segundo, foi o que Lula teve de superar na preferência de LOURDES.

     Vieram as enchentes repetidas. Com o dinheiro da casa de BARIRI compraram um imóvel na mesma Rua 04, enquanto o pessoal de Lula, contido pelas águas, foi para a VILA SÃO JOSÉ, a três quarteirões, “depois do rio”.

     A casa própria não intimidava a enchente e foram para o JARDIM PATENTE, sempre na mesma região do IPIRANGA, na fronteira de SÃO BERNARDO.

     Dois meses depois, a Família de Lula chegava à VILA PATENTE, instalando-se numa quadra acima.

     De tanto procurar emprego, na crise de 1965, Lula chorava: - “Eu, às vezes, parava no caminho e chorava muito... porque você perde a perspectiva”.

     A sorte começava a virar. Cansados de receber o mesmo “não”, juntos, LAMBARI propôs, e LULA aceitou, e os dois passaram a procurar empregos separados.

    No primeiro dia, um voltou torneiro-mecânico da VOLKS e, o outro, torneiro-mecânico da VILLARES.

     Os amigos se aproximavam mais. Lula, empurrado por 03 conhaques, passou a namorar LOURDES. LAMBARI escolheu RUTH, a última das Irmãs de Lula, mas demorou pouco o namoro.

     Dona LINDU sabia que ele namorava outras (“eu era sem vergonha, mesmo”) e o escorraçou como namorado da Filha.

     Ao chegar a casa às 10 horas da noite, conta LAMBARI, Lula estava no SOFÁ, namorando a IRMÃ: - “Ô, meu, sua mãe já correu comigo de lá. É bom você também pegar sua linha. “TATURANA” respondia: - “Dá um tempo, fica na sua.” E ficava.

     Mais uma vez, as duas famílias mudaram de endereço. Lula foi para a PAULICÉIA, em SÃO BERNARDO do CAMPO, e Dona HERMÍNIA mudou-se para a Rua Verão, nº 10, C, na VILA das MERCÊS, onde está até hoje, na companhia de LAMBARI, que se descasou.

     Lula namorava lá. Lá assistiu LAMBARI construir sua habitação sobre a laje no terreno de 05 metros por 25 e, de “roupinha branca e namorada a tiracolo, jornal domingueiro na mão, gozava o cunhado, misturando a masseira: - “Viu o que acontece, LAMBARI?..., Você “não quis estudar...”.

     Na Rua Verão, foi testemunha da dificuldade dos Sogros para pagar a segunda prestação da casa, quando o imóvel próprio da PONTE PRETA foi vendido a um MOTORISTA de ÔNIBUS.

     As enchentes desvalorizaram a casa. Toda pessoa que chegava para comprar, via a marca d’água na parede, media a altura dos filhos, via que ela dava no pescoço deles, e desistia.

     Um MOTORISTA de ÔNIBUS comprou, pagou a primeira prestação e desistiu da segunda, porque nova enchente levou o Paletó e os 800 cruzeiros que havia no Bolso do Paletó para pagar a prestação restante, deixando em dificuldade a família que também devia a segunda prestação.

     Da distante PAULICÉIA, em SÃO BERNARDO, Lula vinha namorar todas as noites.

     Na volta, cansado de esperar ônibus na VIA ANCHIETA desistia, retornava a pé e dormia na casa da Sogra (“eu não ia pela ESTRADA das LÁGRIMAS, eu ia pela MARGINAL”).

     Lula achava Cedo para Casar, mas as circunstâncias amargas, segundo ele, o levaram a precipitar a escolha: - Eu vivia uma vida desgraçada, eu tinha de CATAR BITUCA de CIGARRO no chão para FUMAR.

     Eu nunca tinha dinheiro para comprar o Cigarro que eu gostava que era o CONTINENTAL.
  
     Eu comprava o KENT. Então, quando eu resolvi casar eu disse: - “Olha, já que a gente está nessa vida desgraçada, sustentando casa, então vamos casar de uma vez e a gente se vira”.

     Casaram-se na IGREJA NOSSA SENHORA das MERCÊS, em 24 de maio de 1969. Dois dias antes, haviam se CASADO no CIVIL, ele de terno muito bem cortado, todo empertigado.

     Na Despedida de Solteiro, na PAULICÉIA, Lula quis reter a NOIVA para a primeira noite, mas Dona HERMÍNIA não permitiu, irredutível, mandando-o esperar o dia da IGREJA.

     Conciliadora, Dona LINDU decretou: - A NOIVA dorme aqui, o NOIVO vai dormir com a SOGRA, na VILA das MERCÊS. LULA protestou em vão – “mas, eu já sou Casado!”.

     O casal foi morar no MOINHO VELHO, de aluguel. Depois de 01 ano, estava de novo nas vizinhanças da Família Mineira, na Rua Torta que começava como Primavera, evoluía para Verão, descia para Outono e acabava como Inverno.

    Dona HERMÍNIA morava na Rua Verão e Lula, agora na casa própria, se instalou na Rua Outono.

     A FILHA LOURDES ficou GRÁVIDA e o casal – ele na VILLARES EQUIPAMENTOS e ela tecelã da DATAMEX – construíram um quarto para a CRIANÇA. A gravidez foi muito bem até o 8º mês.

     Tanto os médicos do emprego, quanto os particulares, diziam que tudo ia bem. Não ia.

     O tom de Gema de Ovo no Olho de LOURDES denunciava uma Doença Hepática não descoberta pelos médicos.

     Foi preciso que os Parentes alertassem e Lula insistisse para que ela ficasse internada, numa QUINTA-FEIRA, no HOSPITAL MODELO, em SÃO PAULO.

     Para os médicos, as dores – queimação no estômago e vômitos prolongados - que faziam LOURDES gritar eram dores normais da gravidez.

     Dona HERMÍNIA conta que foi ao HOSPITAL, no SÁBADO, acompanhada de LULA e de duas Noras, levando frutas. A FILHA comeu uma pêra, desta vez não vomitou, e todos voltaram para a casa, mais animados.

     No DOMINGO, na visita coletiva das 14 horas, Dona HERMÍNIA estava de volta, com LULA.

     Os médicos, enfim, diagnosticaram a HEPATITE e a colocaram no ISOLAMENTO, GEMENDO.

     Desesperada, a MÃE perdeu-se no HOSPITAL e um médico a tranqüilizou – “está em TRABALHO de PARTO, é normal”.

     LULA passa mal e toma uma tranqüilizante, enquanto a Sogra vai embora sozinha, desolada.

     Na noite de DOMINGO, LULA e LAMBARI, com Esposa e Cunhada, retornam ao HOSPITAL MODELO. O Médico mandou esperar e depois autorizou que o Irmão desse uma olhada na doente, que estava sedada e tinha tomado Remédio para INDUZIR a DILATAÇÃO.

     Pela porta entreaberta, LAMBARI viu que LOURDES dormia.

     O médico, enfático, disse aos Cunhados: - “Luiz, a CRIANÇA Está Morta Dentro da Barriga, mas sua mulher não corre nenhum perigo. Ela está muito bem. Amanhã, traga a roupa da criança para o enterro”.

     LAMBARI se lembra que Lula aceitou o inevitável e pediu que lhe emprestasse dinheiro para o ENTERRO do MENINO.

     Foram, juntos, comunicar a Dona HERMÍNIA que a FILHA não corria perigo. A MÃE relutou, achou que estava sendo enganada, disse que a FILHA não escaparia e foram dormir.

     Na SEGUNDA-FEIRA, 07 de junho de 1971, Lula, a Mulher de LAMBARI e a Cunhada LUZIA foram para o HOSPITAL.

     LAMBARI estava trabalhando na VOLKS, quando foi chamado pelo Departamento Social, que o mandava seguir para o HOSPITAL. Imaginou que era o DINHEIRO do SEPULTAMENTO, passou no BANCO e foi.

     Encontrou-se com Lula, a Cunhada e a Esposa, na recepção. Mas, apenas os dois homens subiram para a Porta da Sala de Parto.

     As enfermeiras os viram chegar, e comentaram: – “A família tá aí”. Esperaram muito. O médico saiu.
- O senhor é o senhor Luiz?
- Sou.
- O senhor precisa ser forte para ouvir o que vou lhe dizer. Seu filho nasceu morto.
- Eu já sabia. O médico me explicou, ontem.
- O senhor precisa ser mais forte ainda, porque sua mulher também morreu.

     Lula fez vômitos e encostou a cabeça na parede. Com a cabeça sempre na parede, ele girava o corpo contra a parede, girava... girava... girava...

     Na noite de DOMINGO, soube-se depois, logo que Lula e LAMBARI saíram do HOSPITAL, LOURDES acordou, chamou pela MÃE, chamou por LULA, e VOMITOU SANGUE.

     “A noite toda, ela Vomitou Pedaços do Fígado”. Às 05 horas e 15 minutos da manhã, os Médicos retiraram a CRIANÇA a FERROS. Ás 07 horas e 15 minutos, LOURDES MORREU.

     LULA e LAMBARI foram receber OS CORPOS na Pedra do NECROTÉRIO. Estavam cobertos por lençóis brancos e identificados.

     No lençol maior, a etiqueta indicava – MARIA de LOURDES da SILVA. O “meninão”, de quase 04 quilos, tinha uma fita colante escrita “NATIMORTO”.

     Lula explodiu: - Esses “fdp” colocaram este nome. Não era nem este o nome que eu queria para o meu filho!

     (O nome – soube-se também depois – seria Fábio Luiz, o nome que Lula repetiu no PRIMOGÊNITO do Segundo CASAMENTO).




MORTE NATURAL ou PROVOCADA?




     No dia 15 de junho de 2022, as 00 hora e 17 minutos recebo uma mensagem no WHATSAPP. Era de L. C.
    
     Tik Tok de @ xande_dantas_ofc – Quanta maldade Brasil. Desse assassino. A mensagem se reporta ao Luiz Inácio da Silva, (depois foi acrescentado o nome de LULA), no período da doença, da gravidez, e do “parto prematuro”, de MARIA de LOURDES da SILVA, e, da subseqüente morte da esposa e de seu primeiro filho (que deveria receber o nome de Fábio Luiz, por vontade paterna).    
    
     O fato aconteceu desde uma quinta-feira até a segunda-feira da semana seguinte. Ou seja, do dia 03 de junho de 1971 (5ª feira) até o dia 07 de junho de 1971 (2ª feira).
    
     O fato foi relatado por Lula à historiadora DENISE PARANÁ, autora da biografia de LULA para o filme “Lula, o filho do Brasil”.  
      
     Segundo o “autor” do Tik Tok acima mencionado, existem testemunhas da época que conheceram o casal, e que conhecem os verdadeiros acontecimentos, estando eles dispostos a contarem o que sabem sobre o assunto à mídia.  

     Lula achava “Cedo pra Casar”!  Talvez Lula achasse “Cedo pra Engravidar”! A consciência dele é quem deve responder.

     No “texto”, não fica claro o tempo de gestação. Se foram sete ou se foram oito meses de gravidez. A criança, no caso um menino, foi retirado à fórceps. Uma vez mentiroso sempre será mentiroso.  

      Há o relato do uso “forçado” de abortivo caseiro por parte de LOURDES, - (uma mistura de chá de Lírio com semente de Maconha) -, houve internamento hospitalar, - (hospital-maternidade) -, com complicações de um parto prematuro, e subseqüente ruptura do útero. E a morte da mãe e do filho.  

     A edição de nº 251, datada de 10 de março de 2003, na Revista ÉPOCA – 1º ano do governo Lula – relata alguns fatos do caso, sem mencionar detalhes sobre o uso de abortivos. O nome de solteira de Lourdes era MARIA de LOURDES RIBEIRO da SILVA, 22 anos, o nome da mãe era HERMÍNIA de ANDRADE e a melhor amiga de Lourdes era MIRTES MAGALHÃES.

     Segunda a Revista ÉPOCA, Lula não permitiu a necropsia. A reportagem foi feita por ELIANE BRUM, e recebe a “Manchete”: - A Morte da Primeira Mulher de Lula - Bodas de Chumbo.

     Segundo a Revista ÉPOCA, consta o “Atestado de Óbito” de número nº 8.423, lavrado no Cartório de Registro Civil no 37º subdistrito de São Paulo. No atestado consta como causa mortis: - coma hepático, provável hepatite. O médico SÉRGIO BELMIRO ACQUESTA, trabalhava no DEPARTAMENTO MÉDICO da VILLARES, desde o início dos anos 60.

     A ASSINATURA do ÓBITO cruza o destino da Operária MARIA de LOURDES da SILVA com o Médico SÉRGIO BELMIRO ACQUESTA, personagens típicos de um país à sombra do arbítrio.

     Paulistano de ascendência italiana formado em Medicina pela primeira turma do Campus de SOROCABA da PUC-SP em 1956, SÉRGIO ACQUEST ingressou no Departamento Médico da Villares nos anos 60. Permaneceu até o início da década de 90.

     No mesmo período, fez carreira como LEGISTA no INSTITUTO MÉDICO-LEGAL de SÃO PAULO, Funcionário Público Concursado.

     Quando LOURDES morreu, ele era Gerente do Departamento Médico da Villares e acompanhava os casos mais graves dos Trabalhadores e Familiares.

     Nos Plantões do IML, atuava nas NECROPSIAS de PRESOS POLÍTICOS em Companhia de Outros Colegas citados no Relatório do “PROJETO BRASIL NUNCA MAIS”, levantamento coordenado pela ARQUIDIOCESE de SÃO PAULO sobre a Tortura praticada na Ditadura.


     Menos de um ano antes de assinar o ATESTADO de ÓBITO de LOURDES, o LEGISTA SÉRGIO ACQUESTA fez a NECROPSIA de JOSÉ MARIA FERREIRA ARAÚJO, Militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), preso em 23 de setembro de 1970 pelo DOI-CODI de SÃO PAULO, sob o nome falso de EDSON CABRAL SARDINHA.

     Conhecido pelo Codinome de ARIBÓIA, ele morreu nas mãos dos Torturadores, suplício testemunhado pelos presos políticos que aguardavam a vez. Tinha 29 anos. A família nunca encontrou o corpo.

     No LAUDO NECROSCÓPICO, seu nome é identificado com um 'T', em vermelho, uma senha para diferenciar o 'Terrorista' dos Presos Comuns.

     A morte de JOSÉ ARAÚJO é descrita nos Documentos do Arquivo do DOPS/SP de duas maneiras diferentes pelo mesmo Delegado, ALCIDES CINTRA BUENO FILHO. No primeiro, ele morre em 'Tiroteio'. No segundo, de 'Mal Súbito'.

     Autor da NECROPSIA, o médico SÉRGIO ACQUESTA concluiu que a morte de JOSÉ ARAÚJO teve 'Causa Indeterminada'.

     A Revista Época, ao invés de procurar saber sobre o SUPOSTO ABORTO da primeira esposa de LULA, - (para poder negar ou não a história) -, envereda a sua história sobre as SUPOSTAS TORTURAS do regime militar, que, diga-se de passagem, tinha a participação muito maior de CIVIS do que de MILITARES.

     O SUPOSTO ABORTO realizado por MARIA de LOURDES da SILVA coloca mais lenha na fogueira, - e mais credibilidade -, na história da ex-namorada de Lula, MIRIAM CORDEIRO, de que ela teria recebido dinheiro de Lula, - dinheiro do sindicato e dos sindicalistas - para fazer o ABORTO de LURIAN CORDEIRO.  




DE VOLTA.



     Dona HERMÍNIA apoia-se numa BENGALA para caminhar. A intensa simpatia e a simplicidade minimizam este detalhe, mas ela sofreu desgaste na Cabeça do Fêmur e o ex-genro, já famoso, conseguiu-lhe uma Cadeira de Rodas, que ela não mais precisa.

     Morando na mesma e modesta casa da VILA das MERCÊS, onde um Presidente da República noivou e casou. Ela ficou viúva em 1990.

     Mora com o filho LAMBARI e sai muito, anda por toda parte. Anda principalmente pelos BINGOS, e a voz da neta na secretária eletrônica do telefone resume: - “Você ligou para Dona HERMÍNIA. No momento, fui até o BINGO. Se demorar, é porque fiquei rica. Se não, voltarei logo. Por favor, ligue mais tarde. Obrigada”.

     O olhar sereno, a voz mansa e doce, o cabelo pintado com discrição, nada sugere o sudário de uma vida de RETIRANTE e de uma MÃE que sepultou a FILHA, a ÚNICA.

     Aos 73 anos, está mais conservada que o irmão MANÉ CODORNA, 10 anos mais moço, que foi com ela para SÃO PAULO, e HENRIQUE, de 70, que já a esperava lá, na SECA de 1952.

     Depois de 50 anos de ausência, a convite do HOJE em DIA, ela levou o filho LAMBARI para conhecer, reconhecer, a casa de onde ele partiu, com apenas 06 anos.

    Foram com ela dois irmãos, um residente no FURADINHO NATAL, e o outro morador de MONTES CLAROS.

     Foram também os Filhos, os Sobrinhos e os Netos, rever a casa no meio do mato.

     Já na entrada de FURADINHO, o pequeno fazendeiro JOÃO GONÇALVES de SOUZA, de 75 anos, reconhece Dona HERMÍNIA e recorda: - Eu assisti o seu Casamento, em VISTA ALEGRE. A senhora tinha 13 anos, muito bonita. O PADRE ainda perguntou – Você ao menos sabe fazer um ALMOÇO? Não sabia.

     Mas sabe o fazendeiro, montado com garbo no cavalo, que ela é a Primeira Sogra de Lula. Aliás, “Lôla, aquele que manda em nós”.

    FURADINHO é um Povoado a exatos 43 quilômetros do centro de MONTES CLAROS. São minifúndios, ocupados por 40 famílias, quase todas Evangélicas da Igreja de Deus - AVIVAMENTO BÍBLICO.

     O acesso é pela Estrada de JANUÁRIA, logo depois de LAVAJINHA. Ali, todos trabalham e vivem do campo e para o campo, numa região de penhascos, que difere completamente da topografia do NORTE de MINAS.

     São os “alcantis”, eles sabem, mas lamentam que estejam numa situação de grande ruína, depois que o BANCO deu de financiar suas atividades, estimulou uma Fabriqueta de Laticínios e impôs a compra de umas “vacas pretas”.

     As vacas morreram, ninguém deu conta de pagar os juros ao BANCO, e todos estão muito endividados.

     LAVAJINHA e FURADINHO levam ao MORRO AGUDO, onde Nasceu LOURDES, a Primeira Mulher de Lula.

     Quando dali saiu a caravana de RETIRANTES, em 1952, o lugar era alegre, com muitas famílias, muitas festas e “domingadas”.

     Os bailes eram animados com uma vitrola manual e o primeiro trator, que destocou o terreno, causou furor e espanto.

     Hoje, o MORRO AGUDO - uma alta montanha arredondada, que contrasta com os alcantis e batiza o local - é a única coisa que permanece imponente. O resto é esgotamento e desolação.

     Todos se mudaram a partir daquela época e as extensas pastagens resultam agora num campo de espinhos-agulha.

     Cinqüenta anos depois, este é o cenário que Dona HERMÍNIA e LAMBARI encontraram no retorno à casa velha, onde o PAI dela, “seu” JACINTO, deu de criar uma cobra jibóia pelo telhado, incumbida de comer as cobras venenosas, bem menores, mesmo a custo de cair dos caibros e assustar crianças, como a pequena LOURDES e o Irmão LAMBARI.

     Ao socavão esconso, que dá para o POVOADO de BARREIRAS, só se chega a pé.

     Nem o cavalo vai lá, porque o terreno é acidentado, tem pedras escorregadias e, depois delas, tem penhas e nas penhas precipícios.

     Mesmo dependente da BENGALA, a Sogra de Lula aceitou ir, guiando o Filho LAMBARI, o maior amigo de juventude do Presidente.

    Aquele que tinha com ele sociedade nos Cigarros, partilhados também por “MARIA BAIXINHA”, a Irmã de Lula, dois anos mais velha do que o Presidente, e dona dessas declarações: - “Eu e Lula sempre nos demos muito bem.

     Por exemplo, mais tarde, quando o Lula Chegava de Fogo em Casa, era eu que dava banho nele.

     Quando ele namorava a LOURDES, ela saía com o Irmão dela. Esse cara é o máximo, o LAMBARI, ele sabe coisa que vai deixar qualquer um impressionado. Eles passaram a mocidade toda juntos.

     Casaram e continuaram amigos. Nem irmãos eram tão amigos. “Era uma amizade assim, a coisa mais bonita que podia existir”.

     O encontro de Dona HERMÍNIA com os Irmãos, antes de pegar a tosca estrada que permite chegar mais perto do MORRO AGUDO, é emocionante.

     Só não permitem lágrimas grossas porque o lugar não tem este costume. Mas, choram sim.

     Por 2,3 quilômetros, em péssima estrada, nos aproximamos de carro do MORRO AGUDO, onde se pode ir “pelado” a qualquer tempo, avisa MANÉ CODORNA, porque aqui não passa mesmo ninguém. Fomos.

     Na procissão da saudade, o menino ADILSON, de 06 anos, descalço, evoca o LAMBARI daqueles dias.

     A pé, entre espinhos, poeira, matas, córregos secos, subidas, descidas, colchetes, cancelas, mata-burros, a distância é de aproximadamente dois quilômetros, ou 01 hora.

     Normal para quem tem costume. Normal também para Dona HERMÍNIA, sua BENGALA e os 73 anos.

     Na mesma hora em que Lula era recebido pelo Presidente dos Estados Unidos, o primeiro amigo da juventude, LAMBARI, e sua MÃE, a poucos metros já podiam ver o que sobrou da Casa Natal de LOURDES, deixada ali.

     Apenas rijos esteios de aroeira, telhas silenciosas e adobes vermelhos pelo chão, que não se renderam à chuva, talvez porque nem chova mais ali, onde existia um riacho que descia da serra, esculpia na pedra, acordava os homens e adormecia as crianças.

     Dona HERMÍNIA chorou por dentro. Viu “um filme passar pela cabeça”, enquanto o menino LAMBARI ressurgiu dos seus 56 anos perguntando pela plantação de caxi, pela mangueira, pela vaca que o “pegou” onde costumava comer terra.

     “Parece que foi noutra vida”, resumiu a Sogra de Lula, enquanto o Irmão HENRIQUE perguntava pelos passarinhos, que ninguém via, e MANÉ CODORNA justificava, com acerto: - “Até os bichos gostam de movimento. Cantar pra quem?”

     Na volta da bocaina, sentindo mais o caminho que a MÃE de 73 anos, LAMBARI tomou a frente e repetiu o amigo Lula nos dias finais da campanha que o elegeu Presidente da República:

     - Eu, que sou mais bonitinho, vou tirando RETRATO na frente. Você, LAMBARI, como é mais feio, vai dando AUTÓGRAFO.

     No miserável POVOADO de LAVAJINHA, que recolhe os votos da redondeza, historicamente um Reduto Governista, a Vitória de Lula não foi menos expressiva do que em MONTES CLAROS, onde teve 08 de cada 10 votos.

     Talvez até por causa do financiamento das “vacas pretas”.

     A história de que ele é Genro de Dona HERMÍNIA também é sabida, mas não tanto que justifique a vitória de 121 votos contra 42 dados a JOSÉ SERRA, 02 brancos e 08 nulos, num total de 173 apurados.



NA POSSE.



    
     Em 1980, aos 64 anos, quando morria de câncer - doença que devasta a família materna de Lula -, Dona LINDU soube no HOSPITAL que o Filho estava Preso, notícia que lhe vinha sendo poupada. (1ª prisão na POLÍCIA FEDERAL em 1980).

    Ela fez a observação: - “Meu Deus, como que ele vai fazer tudo isso? Deve ter um anjo da guarda perto dele”.

     Dias depois, conversando com a Nora, esposa de ZÉ CUIA, Dona LINDU pediu um copo d’água, tomou, virou do lado e morreu.

     Como ela, Dona HERMÍNIA admira profundamente o Genro. A convite especial de Lula, Dona HERMÍNIA e LAMBARI, assistiram o Presidente receber a Faixa no Parlatório, em Brasília.

     Os dois estavam dentro do PALÁCIO do PLANALTO, ao lado dos Irmãos de Lula, no núcleo mais Íntimo da Família, de PERNAMBUCANOS e MINEIROS.

     E viram, e aplaudiram o gesto solene, em que o amigo RETIRANTE, assumia o MAIS ALTO POSTO da REPÚBLICA.

     - Dona HERMÍNIA, naquele momento, a senhora pensou que sua FILHA poderia estar ali, como Primeira Dama do País?

     - Pensei, sim. E ela estava. Estava representada na HONESTIDADE de LULA e na LEALDADE de MARISA a LULA.




PEDIDOS.



    
     A casa de MANÉ CODORNA, o TIO da Primeira Mulher do Presidente, e seus poucos móveis, - quase nenhum -, apesar de respirar mansuetude e quietação, bem pode servir a Lula quando desejar rever os momentos de pobreza material mais intensa que teve em São Paulo, de casa em casa, de bairro em bairro.

     Se quiser, se algum dia for lá, onde nunca foi nenhum Prefeito de MONTES CLAROS, nos 171 anos do Município, o Presidente pode também ouvir das crianças histórias muito parecidas com a que ele viveu na meninice.

     A pedido do HOJE em DIA, as crianças de 06 a 14 anos, escreveram cartas ao Presidente, fazendo referências à Conterrânea que foi sua Primeira Esposa.

     E nelas, o lamento é constante. Todos se queixam, e esperam ajuda, para que as ESCOLAS as recebam melhor, e não assistam AULAS sentadas no CHÃO.

     Também, pedem Merenda melhor e Ônibus decentes, que não as obrigue a andar, às vezes 04 e até 05 horas, toda madrugada para chegarem ao local das AULAS.

     E se ouvir os adultos conterrâneos de sua MARIA de LOURDES da SILVA, o Presidente pode até determinar que a região ganhe uma grande MATERNIDADE, que impeça que as MULHERES dali, como a sua LOURDES, MORRAM na HORA de ter FILHOS.

     Ali, MORRER no PARTO é uma constante, até hoje. Em MONTES CLAROS, pessoas morrem na PORTA dos HOSPITAIS, com freqüência.

     Como morreu LOURDES, em SÃO PAULO, em 1971, morreu a AVÓ de LOURDES, MÃE de Dona HERMÍNIA.

     Morreu a Primeira Mulher de MANÉ CODORNA e morreu a MÃE de MARIA NAZARÉ de FREITAS, que na IGREJA do AVIVAMENTO BÍBLICO narrou para todos, a história do 5º Parto de sua MÃE, MARIA RIBEIRO da SILVA, outra SILVA, que morreu no Parto Triplo em que apenas ela sobreviveu.

     E todos pedirão, por fim, em comovido silêncio, que o Presidente dê a esta MATERNIDADE REGIONAL um nome que o acompanha e vela por ele – MARIA de LOURDES da SILVA, RETIRANTE de 22 anos, morta em 07 de junho de 1971.

     *O jornalista PAULO NARCISO, 52 anos, começou aos 15, no “O Jornal”, de MONTES CLAROS. Aos 20, era Repórter de Polícia do “Estado de Minas”, onde atuaria como editor e repórter especial. Aos 21, obteve menção honrosa no Prêmio Esso. Em 1975, ganhou o Prêmio Esso, com a reportagem “A Esperança Muito Passageira do Trem do Sertão”.




     Em 1980, a então útil ONU (hoje quase inútil), a então útil OMS (hoje um cabide de empregos bens remunerados), além de outros Organismos Internacionais, declararam através da IMPRENSA MUNDIAL que a deformante e letal VARÍOLA estava ERRADICADA do Planeta TERRA. A “arma” usada para combater a terrível doença foi apenas uma VACINA!
    
     Em 1980, um País Continental chamado BRASIL, dava um exemplo ao MUNDO, de que, era capaz de ERRADICAR a debilitante POLIOMIELITE usando apenas uma VACINA, exemplo este seguido por outros países da AMÉRICA do SUL, e, depois, um benéfico caminho que foi trilhado por quase todos os Países do MUNDO. Mas...
    
     Em 1980, o Planeta TERRA foi “presenteado” com uma nova e misteriosa enfermidade chamada de SIDA ou AIDS. Após quase quatro décadas não existe uma única VACINA para evitar a enigmática patologia. Estranho ou muito estranho?
    
     Então a luta contra a debilitante POLIOMIELITE (paralisia infantil) continua, e, a luta a favor da inofensiva AUTO-HEMOTERAPIA, também continua.
    
     Se DEUS nos permitir voltaremos outro dia ou a qualquer momento. BOA leitura, BOA saúde, BONS pensamentos e BOM DIA.
    
     Aracaju, capital do Estado de Sergipe, localizado no BRASIL, um País que combate ferozmente o ainda LÍCITO TABAGISMO e que quer legalizar na tora outras DROGAS ainda ILÍCITAS, inclusive a ESQUIZOFRÊNICA maconha. Não tem TREM na LINHA. Tem é TRAFICANTE “político” nessa estória.
    

    

ARACAJU, segunda-feira, 25 de julho de 2022.


JORGE MARTINS CARDOSO – Médico – CREMESE nº 573.
        
      
      


     FONTES: - (1) – INTERNET. (2) – GOOGLE. (3) – WIKIPÉDIA. (4) – GNN JORNAL, Por Luis Nassif. (5) – Jornal Hoje em Dia, de Montes Claros. {(A matéria foi publicada após o 2º turno da ELEIÇÃO de LUIZ INÁCIO LULA da SILVA (PT) em 2002, e já reconhecida pelo TSE a sua vitória sobre o adversário JOSÉ SERRA (PSDB)}. (6) – Extraído do site “montesclaros”. (7) – A reportagem é acompanhada de mais de uma dezena de fotografias sobre o casal, o casamento e sobre outros familiares. (8) – Revista ÉPOCA, Edição nº 231, de 10 de março de 2003, A Morte da Primeira Mulher de Lula – Bodas de Chumbo – Por Eliane Brum. (9) – Outras fontes.

jorge martins
Enviado por jorge martins em 25/07/2022
Alterado em 30/07/2022


Comentários


 
Site do Escritor criado por Recanto das Letras